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quarta-feira, 11 de maio de 2011

Eva



Ela se despiu: curvas, curvas onde qualquer homem se perde, cabelos ao vento, delicadeza, fascínio, indefesa e perigosa ao mesmo tempo. Tinha aos seus pés pano, ouro e sapatos. Mas ela se despiu mais ainda: agora por completo. Ela foi além das roupas, se despiu para si mesma, pra se entender, pra saber quem ela é por dentro. E somente ela pôde ver a sua nudez interior. É o seu segredo secreto.

Ela abriu o guarda-roupas e disse: "Hoje eu vou de mim mesma". Então ela procurou e procurou; e quando disse "Não tenho nada pra vestir" é porque ela não estava se achando dentro daquele amontoado de panos recortados.

Quando ela escolheu a roupa, ela escolheu a que mais se parecia com ela, baseada no aspecto da sua personalidade que estava mais presente no momento. Porque quando uma mulher se produz ela está cultivando a sua individualidade; e se vestir na verdade significa mostrar parte da sua nudez interior.

Essa necessidade de querer mostrar o seu ser, partilhar a sua essência, que se diga doar-se, é o que significa ser mulher. Essa necessidade de querer se colocar pra fora em infinitos tipos de roupas, aparatos, sapatos, que representam as infinitas possibilidades do seu ser, é o que significa ser feminina.

tão ela se veste novamente. Se reveste. Se veste de si mesma. Porque o seu vestir é a pura expressão daquilo que ela é. Ela se despe, se veste e se adorna com as suas jóias, com os seus dramas, seus desejos escondidos atrás de uma "cara de paisagem", sua alegria e sua vivacidade.

Então ela escancara a boca em um sorriso; e o seu sorriso diz: "Eu sou feliz, porque sou livre". Porque expressão não é exibicionismo, expressão é liberdade. Em seguida ela solta um grito histérico e dança pelo meio da sala como uma louca; mas na verdade isso também é a expressão do que significa ser mulher. E vestida de respeito, auto-estima e valor próprio ela sai de casa.

Na rua ela recebe assovios de pedreiros, o indicativo básico de que uma mulher chama atenção. Mas ela torce pra não encontrar com caras sem noção que entendem que buzinar repetidas vezes pra uma mulher na rua significa alguma coisa. Ela cruza os dedos pra não ter que cruzar com caras que soltam as velhas cantadas toscas de boteco, aquelas em que um homem diz alguma bobagem que tirou da cabeça sem nenhum esforço e espera que a mulher se jogue aos seus pés.


Ela volta pra casa. No espelho, as roupas que ela veste e as jóias que ela carrega são um sinal pra dizer que ela quer ser tida como valiosa.


Ela encontrou um cara que implorou para ter a sua nudez, a sua beleza interior. Que foi atraído pelas curvas escondidas debaixo de um pano social. Ela se sentiu cuidada, porque elogio significa acariciar com palavras.


Ela foi notada por um cara que aceitou o risco de lhe galantear como homem sem parecer babaca, de pegar tocos, crises de indecisão, tapas, suportar TPMs e passar pelo longo processo de tirar peça por peça do seu vestuário sentimental para no fim obter o seu valioso e suado prêmio, o maior presente que um homem pode ter: o coração e o amor de uma mulher; uma mulher.


Ela se despe, veste a camisola e dorme.





By Leonardo Ângelos