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quarta-feira, 21 de julho de 2010

Se eu morrer amanhã



Se eu morrer amanhã,
Pedirei apenas uma coisa:
Que possa, mesmo que por um instante,
Olhar para trás.

Certamente, rirei de minha inocência
Enquanto fui criança.
E logo depois chorarei,
Sofrendo terrivelmente
Por tê-la perdido.

Me divertirei com tolas preocupações
Que afligiram a minha adolescência.
E sentirei um desejo aterrador
De viver isso novamente.
Para fazer tudo igual,
Embora diferente.

Se eu morrer amanhã,
Verei que amava minha vida
E minha família
Muito mais do que imaginava.
E me arrependerei amargamente
De não ter gritado isso aos quatro ventos.

Me arrependerei tanto...
De projetos maravilhosos que nunca foram realizados.
De sentimentos raros que não foram revelados.
E de todo tempo gasto diante da televisão.
Me arrependerei de não ter ido aos lugares que quis,
De não ter provado todos os sabores,
E de não ter beijado todas a bocas que desejei.

Se eu morrer amanhã,
Sentirei falta de coisas que não me pareciam tão importantes.
Sentirei falta da chuva,
E do cheiro que deixava na terra.
Sentirei falta do barulho do mar,

E do sol.
Sentirei muita falta do sol
E de todos os crepúsculos que eu não vi.

Sentirei falta de absolutamente tudo.
Ate mesmo do que nunca me importou.
E sofrerei com uma imensa angustia

Que me fará buscar com desespero
Coisas boas,
Das quais não irei me arrepender.

Então lembrarei de todos os meus amigos,
E de todas as pessoas que me surpreenderam.
E também das que me decepcionaram,
E das que me perdoaram.
E lembrarei das poucas vezes em que me senti feliz
Sem qualquer motivo especial para isso.
E das vezes em que me permiti errar
E acertei.

Se eu morrer amanhã,
Tentarei achar em minha vida
Um sentido filosófico
E uma beleza poética.
E conseguirei.
E daí me deixarei aquietar,
E sentirei a paz que todos buscam.
E um sentimento de profunda gratidão
Por ter apenas vivido.
Como todas as pessoas,
Mas não como qualquer pessoa.

Se eu morrer amanhã,
Pedirei, mesmo sabendo que em vão,
Para voltar.
E ai viver intensamente,
E fazer tudo o que desejar.
Sabendo usar o tempo
Que eu nunca soube usar.
E ver tudo de outra maneira,
Com uma alma serena
E um coração muito mais quente.
Que seria como tudo em minha vida.
Que não seria nada morna, nem nada cinza.
E que não teria nem um minuto que não fosse de extrema felicidade,
E de plena consciência.

Se eu morrer amanhã,
Viverei todos os momentos de minha vida
Em poucos instantes.
E ai então, entenderei tudo.
E rirei de mim mesma,
E de minhas esperanças,
E de minhas aflições.

Pois deitara sobre mim uma sabedoria plena,
E então eu saberei
Que disso tudo eu sempre soube.
E que se não fosse morrer amanhã,
Nada mudaria.
Embora saiba que a vida
Um dia
Realmente acaba.


* * *

Caroline Dienstmann