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quarta-feira, 6 de outubro de 2010

A Bolha



Uma grande bolha tocou de leve o nariz de Isabele e estourou respingando em seu olho.

- Por que choras, Isabele? - Perguntou uma voz suave que Isabele nunca tinha ouvido antes. Aliás, Isabele era acostumada a ouvir vozes nada suaves, como sua mãe, que mesmo sendo uma boa pessoa, vivia gritando. Gritava quando Isabele brincava na areia, quando Isabele parava olhando para cima esperando a chuva cair. Gritava também quando o pai de Isabele passava o domingo inteiro lavando o carro.
Isabele adorava quando seu pai lavava o carro. Ele espirrava água para cima e Isabele podia ver o arco-íris.

Foi em um domingo desses, enquanto seu pai lavava o carro, que Isabele viu uma bola flutuando. Ela era transparente, mas ao mesmo tempo brilhava em cores diferentes. Tons de azul e lilás que Isabele nunca tinha visto antes.

A bola chegou bem perto, aproximou-se de seu nariz e estourou. Algo respingou em seu olho e fez arder.

- Por que choras Isabelle?

- Não estou chorando - respondeu ela - algo respingou em meu olho.

- Então você esta chorando porque algo respingou em seu olho.

- Claro que não, choro quando algo triste me acontece e...

- Mas digo que quando algo respinga em nossos olhos e faz arder não me parece um acontecimento feliz.

Isabele ficou parada por um momento e pensou que talvez a voz tivesse razão. Mas de onde essa voz vinha?

- Venho de onde todas as ideias vem.

- E onde é isso?

- Não importa. Nada mais vai até lá. e Se algo chega até lá, jamais volta.

- Pois digo que posso visitar qualquer lugar e voltar de lá - retrucou Isabele, sabendo que não se pode ir até um lugar e não voltar dele.

- Pois eu duvido muito. Se voce conhecer o mundo das idéias jamais irá querer voltar de lá.

- Claro que vou. Disse ela relutante. Vou querer visitar minha mãe e meu pai. E para isso terei que voltar, meus pais não gostam muito de ideias.

- Claro que gostam. E já amaram uma ideia a ponto de jamais pensarem em amar outra.

Isabele não imaginava o que era amar uma ideia, e muito menos se apegar tanto a ela a ponto de esquecer de todas as outras. As ideias fascinavam Isabele. um dia tivera a ideia de ajudar um grupo de formigas. isabele acompanhou uma tarde inteira as formigas carregando folhas para dentro do formigueiro. Não eram folhas de rosa, tampouco grama. Isabele percebeu que as formigas cortavam pequenos pedaços de folhas de uma arvore que jamais tivera prestado atenção. No outro dia Isabele pegou uma duzia de folhas e as cortou em pedaços tão pequenos quanto os pedaços que as formigas cortavam e espalhou em volta do formigueiro. jamais voltou para ver se as formigas gostaram das folhas.

- Como faço para chegar ao mundo das ideias?

- Apenas siga as bolhas.

- Que bolhas - Isabele perguntou sem obter resposta.