O Covarde, o Corajoso e o Ganancioso
Um homem, que vivia perto de um cemitério, uma noite, ouviu uma voz que o chamava de uma sepultura. Sendo covarde demais para, sozinho, investigar o que se passava, confiou o ocorrido a um corajoso amigo que, após estudar o local de onde saíra a voz, resolveu voltar à noite para ver o que aconteceria.
Anoiteceu. Enquanto o covarde tremia de medo, seu amigo foi ao cemitério e ouviu a mesma voz saindo de uma sepultura. O amigo perguntou à voz quem era e o que desejava. A voz, vinda de baixo, respondeu: — Sou um tesouro oculto e decidi dar-me a alguém. Eu me ofereci a um homem ontem à noite, mas ele era tão medroso que não veio me buscar. Por isso, dou-me a você que é merecedor. Amanhã de manhã, irei à sua casa com meus Sete Irmãos.
O homem corajoso disse: — Estarei esperando por vocês, mas, por favor, diga-me como devo tratá-los. A voz explicou: — Iremos todos vestidos de monge. Tenha uma sala pronta para nós com água. Lave o seu corpo, limpe a sala e tenha Oito cadeiras e Oito tigelas de sopa para nós. Após a refeição, você deverá conduzir cada um de nós a um quarto fechado, no qual nos transformaremos em potes cheios de ouro.
Na manhã seguinte, o homem corajoso lavou o corpo conforme lhe fora recomendado, limpou a sala como lhe fora ordenado, e ficou à espera dos oito monges. À hora aprazada, os oito monges apareceram, tendo sido recebidos cortesmente pelo corajoso homem. Depois que tomaram a sopa, ele os conduziu, um por um, aos quartos fechados, nos quais cada monge se transformou em um pote cheio de ouro.
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Um homem muito ganancioso que vivia naquela mesma aldeia, ao tomar conhecimento do incidente, desejou também ter para si os potes de ouro. Para tanto, convidou os oito monges para virem até sua casa. Depois que eles tomaram a refeição, o ganancioso, esperando obter o almejado tesouro, conduziu cada um a um quarto fechado. Entretanto, ao invés de se transformarem em potes de ouro, os monges, enfurecidos com a cobiça do espertalhão, denunciaram o ganancioso à polícia, que o prendeu.
Quanto ao covarde, quando ouviu que a voz da sepultura havia trazido riqueza ao seu corajoso amigo, foi até a casa dele e, avidamente, lhe pediu o ouro, insistindo que era seu porque a voz foi dirigida primeiramente a ele. Quando o medroso tentou pegar os potes, neles encontrou apenas cobras venenosas erguendo as cabeças prontas para atacá-lo.
O rei, tomando conhecimento desse fato, determinou que os potes pertenciam ao homem corajoso, dizendo: — Assim se passa com tudo neste mundo. Os tolos cobiçam sempre os bons resultados, mas são covardes ou ineptos para procurá-los, e, por isso, estão continuamente falhando. Não têm confiança nem coragem para enfrentar as intestinas lutas que ocorrem na mente. Só com determinação, confiança e coragem se poderá dar início à Peregrinação que conduzirá à verdadeira Paz Profunda e à Harmonia Interior.