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segunda-feira, 13 de setembro de 2010

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"Não sei quantas almas tenho
A cada momento mudei
Continuamente me estranho
Nunca me vi nem achei
De tanto ser só tenho alma
Quem tem alma não tem calma
Quem vê, é só o que vê
Quem sente não é quem é
Atento ao que sou e vejo
Torno-me eles e não eu
Cada meu sonho ou desejo
É do que nesce e não meu
Sou minha própria paisagem
Assisto à minha passagem
Diverso, móbil e só
Não sei sentir-me onde estou
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser
O que segue não prevendo
O que passou a esquecer
Noto á margem do que li
O que julguei que senti
Releio e digo:"Fui eu?"
Deus sabe porque o escreveu."


Fernando Pessoa